sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A doença de um homem comum

arte Lula. Arte: Greg/DP
Arte: Greg/DP  


A luz de alerta está ligada. O pico de pressão arterial de 18 por 12 que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou quando se preparava para deixar o Recife na última quarta-feira foi uma prova de que por trás do "mito" existe um ser humano. Como qualquer outro.


Ainda abatido, Lula recebeu alta médica por volta das seis horas da manhã de ontem. Foi direto para São Paulo, onde irá repousar ao lado da família. Foto: Hélder Tavares/DP/D.A Press

Um homem de 64 anos que fuma - 20 a 30 cigarrilhas por dia, ultimamente -, e tem uma carga de trabalho exaustiva. A crise hipertensiva, dizem os médicos, foi pontual. O presidente não é hipertenso. Mas está sujeito a novos picos. Agora, Lula vai ter que repensar os planos para a corrida eleitoral e, literalmente, desacelerar. E ele sabe disso.

"É até bom que tenha acontecido porque acendeu a luz amarela. Vou ter que ter um pouquinho mais de cuidado", disse o presidente a um dos médicos que o atenderam no Recife. Segundo o cardiologista Sérgio Montenegro, do Real Hospital Português, onde Lula ficou internado, o presidente apresentou mal estar, tontura, calafrio, tremor e sensação de falta de ar ainda no avião. Chegou ao hospital com semblante abatido e sinais de fadiga. Nada que o impedisse, no entanto, de perguntar o placar do jogo do Náutico, time do presidente no Recife, que venceu o Santa Cruz naquela noite por 2x1.

"Como a gente não sabia o que era, a gente acionou o hospital inteiro. Toda a parte de cardiologia, hemodinâmica, cirurgia. Estava todo mundo em alerta", disse Montenegro. O presidente passou por uma avaliação clínica e exame físico que incluiu ausculta respiratória e cardíaca, além de palpação abdominal. Em seguida, foi submetido a uma série de exames: eletrocardiograma (método para medir a atividade elétrica do coração), radiografia e tomografia de tórax e de abdomen, ecocardiograma (que utiliza a ultrassonografia para visualizar o coração) e cerca de 30 exames laboratoriais. Todos de sangue, incluindo hemograma e análise da função renal, hepática e cardíaca. A equipe foi rápida e, uma hora e meia após a chegada do presidente, os testes já tinham sido concluídos. Os resultados estavamdentro dos parâmetros normais.

Tantos exames, justificaram os médicos, foram necessários para descartar algumas suspeitas, como infarto, embolia pulmonar e um quadro infeccioso. Lula recebeu nebulização três vezes. Cada sessão durou cerca de 15 minutos, com intervalo de pouco mais de uma hora e meia entre uma e outra. "Com a pressão muito alta, os pulmões funcionam de forma um pouco mais trabalhosa. Uma das finalidades da nebulização é dilatar os brônquios e fluidificar as secreções", afirmou o diretor do Real Tórax, do Real Hospital Português, o cirurgião torácico Cláudio Gomes. Segundo Sérgio Montenegro, Lula já tinha tido que nebulizar nos últimos dias. O presidente tem uma bronquite leve. Na tomografia de tórax os médicos identificaram comprometimentos muito discretos e descartaram problemas respiratórios mais sérios.

Após os exames, Lula passou a madrugada no quarto 1306, uma suíte presidencial de três andares no 13º andar, chamada por funcionários de o "andar das celebridades". A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, descansou no quarto 1308. Lula, que não conseguiu jantar naquela noite, pediu frutas e água de coco à noite. E quase não dormiu. "Ele cochilou uns 40 minutos. É um homem muito elétrico. De vez em quando chamava um assistente e dava alguma informação, fazia algum pedido administrativo", disse Cláudio Gomes, que ficou de olho no presidente a noite inteira. Foi ele quem desaconselhou a viagem à Suíça. "Ele ficou um pouquinho reticente. O médico dele me disse: 'Cláudio, ele só escuta você'. Eu expliquei e ele disse que iria seguir a minha orientação médica. É uma viagem de 10h para um paciente que tinha acabado de sair de uma crise hipertensiva".

Duas perguntas para Roberto Kalil Filho, cardiologista do presidente Lula
O que aconteceu com o presidente?
Ele teve um aumento da pressão arterial na noite de quarta-feira e foi medicado. Já passa bem. Não consultei o presidente. Mas soube pelos médicos do Recife que ele está bem e a pressão está controlada por medicamentos. Acredito que deve ter sido cansaço, pois a agenda dele é muito pesada e ele dorme pouco. Mas posso afirmar que ele é uma pessoa saudável.

Quando o senhor vai avaliá-lo?
Tentei levá-lo ao Sírio-Libanês para fazer um chek-up, mas ele se recusou. Preferiu descansar em casa. Mas, até o fim de semana, farei uma consulta.

Do Diário de Pernambuco


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