terça-feira, 20 de outubro de 2009

Meu Espaço - crônicas, poemas, contos, poesias, pontos-de-vista, etc...

Decrepitude - Adelmo Camilo

“Uma juventude avançada demais, cedo ou tarde,
acaba deixando a moral para trás.” (Héber S. de Lima)

Sinto-me velho. Fora dos muros dessa sociedade carente de bons modos. A lástima é que ando reverenciando-a. Ando curvado. A terra atrai tanto que os velhos andam encurvados. A verdade é que respiro um ar diferenciado. Essa sociedade do Ter, do Querer, do Poder, está poluída, infeccionada pelo vírus do modismo. Acredito que algumas pessoas já nascem sendo alguma coisa. Nasci velho. Vejo o tempo como algo precioso. Necessito cuidar da saúde. Todo dia vou ao “porão” da minha casa (meu quarto) aliviar os pulmões com o ar puro que reduz minha canseira. Inalo algumas páginas. Nessa velhice tenho que tomar os devidos cuidados. Caso descuide, poderei morrer sufocado pela pressão esmagadora da moral e da ética artístico-cultural.
Um balaio, ou melhor, caçuar de besteiras está sendo produzido à base da sacanagem, cujo fundamento está na “arte” e seus produtores, que talvez tenham atualizado numa versão atualizada de Calígula... Ou, a volta de Sodoma ou Gomorra. O mercado do lixo artístico é rotativo. Produz-se muita porcaria, o marketing que a mídia realiza é impressionante. O movimento desse mercado não pára. É coisa de “Cigano” que passa em cidade e cidade arrastando uma boa grana. E o interessante é o povo. O povo é lasca. O lema do povo é viver no aperto, como se não bastasse o aperreio de ter acatado de braços abertos um tal de “arrocha”. E não seria exagero se eu dissesse: de pernas abertas.
Os pais são verdadeiros empreendedores. Investem caro na formação dos filhos. Ingressos, kits, camisas, DVDs, CDs, internet; tomara que estejam lembrando de comprar camisinha. É uma “malhação”! É muito investimento. Nunca eles iriam gastar o dinheiro suado com coisas “banais”, tipo: assinatura de uma revista multicultural, ingressos para o teatro, um livro, etc. Os dez (R$ 10,00) reais que poderiam comprar um livro são investidos em horas fuçando Orkut, onde passam despercebidos os endereços dos blogs de alguns indivíduos que teriam algo a registrar na consciência desses alienados. Se prevalecer essa formação teremos no futuro um país!...
Velho. Nunca acompanhei o ritmo dessa gente. O povo corre demais. Batalha, sofre, e é enganado pela elite (pão e circo pra essa gentalha). Coitadinho do povo. Como querer que o povo aprecie uma arte diferente? Esse tipo é caro. Além do mais, o povo nem tem tempo nem dinheiro. O tempinho que sobra é para ler as “Páginas da vida” (dos outros). O restinho do dinheiro? O povo é caridoso e acaba doando em prol do jogo dos idiotas: Big Brother. E essa doação, toda semana, supera o valor que o “Criança Esperança” arrecada de ano em ano.
Sou atrasado. A televisão é educativa demais. Quando ligam a da minha casa, vou para o meu quarto, ler um livro. Suspeito que fui castigado me dói à alma quando me deparo no porão com os livros e os eletrodomésticos, meios de avanço para o homem. E o segundo é tanto, que os homens ficaram “Rebeldes”, não sabem onde vão parar. O que resta a um velho a não ser a rejeição, o xingamento? Nesses dias me deparei com uma menina que soltou o verbo: - Você é um besta! Fica perdendo tempo com livros e não aproveita a vida. E esse negócio de poesia é coisa de veado. Literatura não dá nada a ninguém. O mártir que derrama o sangue pela palavra não convence o mundo não.
Talvez a jovem tenha razão. Mas acredito que querer vida fácil não purifica o espírito de ninguém. Afirmo que farei o possível para continuar respirando. Que faça jus ao tempo que lhes resta. Estarei destinado a cuidar dos meus pulmões. O tempo que me resta irei repensar a vida e analisar a geração presente. “E eu que julgava em minha idealidade ver ainda toda a geração futura”. Envelheci. A terra me atrai. Logo mais não estarei estagnado nesse meio. Postarei eternamente para a vida. Irei aos que pensam como eu. Aqui jaz.

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