O dia em que o Recife tremeu
Foram dois abalos sísmicos. O epicentro foi em Taipu, no Rio Grande do Norte. Mas os recifenses também sentiram a força da natureza
Aline Moura e Tânia Passos // Diario de Pernambuco
Aline Moura e Tânia Passos // Diario de Pernambuco
Sismólogo diz que Recife sentiu ondas superficiais do tremor no RN
Imagens: Marcionila Texeira/DP/D.A Press
As respostas a seguir devem incomodar, porém são as mais próximas da realidade. É possível, sim, que aconteçam novamente. Afinal, "o planeta está vivo", como disse o geólogo Fábio Pedrosa, professor da Universidade de Pernambuco (UPE). Nada, contudo, que possa causar pânico ou maiores preocupações no Recife ou no restante do estado. Pelo menos por enquanto, já que, na natureza, tudo se transforma.
Os tremores de ontem pegaram os recifenses de surpresa. Foram mais sentidos por quem estava em lugares mais altos. Alguns moradores e trabalhadores, como os do Tribunal Regional do Trabalho, no Cais do Apolo, viveram o pesadelo de precisar descer do edifício às pressas, com medo de mais um desabamento de prédio. Dessa vez não era um edifício desmoronando. Mas o susto ficou. Principalmente em quem estava em bairros como Boa Viagem, Campo Grande, Casa Forte, Arruda e no Centro do Recife. A sensação para alguns foi de um filme visto anteriormente. Daqueles que o fim do mundo começa assim. Sem avisar, sem dar tempo de despedidas. Como aconteceu nos edifícios Serrambi e Éricka, em Olinda, e Areia Branca, em Jaboatão dos Guararapes.
O epicentro dos tremores ocorreu em Taipu, no Rio Grande do Norte. Chegou a 3.8 da Escala Richter, considerado de pequena intensidade. Mas se propagou para Paraíbae Pernambuco. Tudo aconteceu em virtude de movimentos de placas no Oceano Atlântico Sul, entre os continentes Sul Americano e o Africano. Nessas lentas acomodações (na verdade são centímetros), o Rio Grande do Norte é sempre o estado mais atingido do Nordeste por ficar mais próximo do local onde as placas se afastam, ter um solo com grandes falhas geológicas (fendas) e regiões calcárias. Ou seja, quando essas placas se movem no Oceano, aquele estado sente mais o efeito das ondas.
E porque, afinal, o Recife sentiu os tremores de ontem, se não tem as características de cidades do Rio Grande do Norte? Segundo Fábio Pedrosa, o leitor precisa imaginar um peixe, quem tem uma espinha central e várias transversais. Quando a principal (que fica no meio) é atingida, as mais próximas também sentem. "Quando há uma atividade no Oceano Atlântico Sul, grandes fraturas na crosta terrestre, a sensação se propaga como uma onda. Só não se pode prever quando vai acontecer novamente", destaca.
De acordo com Fábio Pedrosa, em Pernambuco existe uma falha geológica, mas está estável e acomodada há milhares de anos, com pequenas alterações em Caruaru e São Caetano, no Agreste do estado. Riscos de algo pior no Recife ou no estado, entretanto, são muito remotos. "Não precisa ninguém se alarmar ou entrar em pânico. Só é preciso refletir: o planeta está ativo, vivo", ressaltou.
Especialistas do laboratório sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade de Brasília concordaram com o geólogo Fábio, informando que, o tremor sentido nos prédios da capital pernambucana foram resultantes de ondas superficiais. Para o sismógrafo Joaquim Ferreira, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nada impede que os abalos voltem a ocorrer. Especialmente onde há falhas geológicas. "Qualquer movimento nessa área onde fica a falha pode gerar um sismo, que pode ser sentido ou não em outros municípios dependendo da magnitude. No último sábado, por exemplo, foi registrado um abalo sísmico de 3.0 na Escala Richter em Taipu que não foi sentido no Recife.
O abalo sísmico
Arte Jarbas/DP sobre imagem do Google Earth |
Do Diário de Pernambuco
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